31 de dezembro de 2013

Forças Armadas. Militares querem imitar "exemplo dos heróis" da revolta militar de 1891

Sargentos defendem que é preciso resgatar Portugal, país "de joelhos perante uma potência estrangeira"
No dia 31 de Janeiro de 1891, um grupo de militares protagonizou um levantamento revolucionário no Porto - que falhou, mas ficou para a história como a primeira grande tentativa republicana de derrubar o poder instalado. Mais de 120 anos depois, a Associação Nacional de Sargentos (ANS) diz que o país "está de joelhos perante uma potência estrangeira" e que por isso é "urgente recuperar o exemplo dos heróis" do 31 de Janeiro.
Numa nota enviada aos jornalistas, a ANS acusa Cavaco Silva - que optou por não pedir a fiscalização preventiva do Orçamento do Estado de 2014 - de "dar cobertura à eventual inconstitucionalidade" de algumas medidas e de preferir "dar satisfação às entidades estrangeiras que continuam a exigir a perda da nossa soberania, em detrimento da qualidade das condições de vida dos cidadãos portugueses". A ANS acrescenta, no entanto, que nada está perdido e garante que vai apelar ao Tribunal Constitucional, ao provedor da Justiça e "a todas as entidades e instâncias possíveis" que podem "defender os portugueses".

REPETIR O 31 DE JANEIRO A ANS vai mais longe e pede aos cerca de 9 mil sargentos que se juntem "activamente" no Dia Nacional do Sargento - que se assinala no próximo dia 31 de Janeiro -, recuperando "o exemplo dos heróis do 31 de Janeiro de 1891".
Ao i , o presidente da associação, António Lima Coelho, sublinha que existe um "paralelismo muito grande" entre o ambiente que se vivia em Portugal em 1891 e o actual. E explica porquê: "Em 1891, o país estava de joelhos perante potências estrangeiras, havia uma alternância de poder podre e a maioria das pessoas vivia na miséria. Percebia-se que monarquia já era solução. Hoje a situação do país é em tudo idêntica", garante o representante dos sargentos.
Por isso, os cerca de 9 mil sargentos vão juntar-se, em Janeiro, para definir medidas de luta. E, admite o presidente da ANS, não está descartada a possibilidade de os militares saírem para as ruas em protesto. "É uma hipótese que não está posta de parte", diz Lima Coelho. Seja qual for o caminho escolhido, os militares prometem endurecer o discurso. "Estamos a falar de uma afirmação de posição, com muita força, para que o governo perceba que há outros caminhos que não o empobrecimento", promete o presidente. "O que os governantes dizem que é bom para Portugal não pode ser mau para os portugueses, porque os portugueses são Portugal", remata.

Não é a primeira vez que os militares ameaçam protestar contra as medidas de austeridade. No último ano, sucederam- -se avisos por parte das várias associações do sector. Lima Coelho chegou a avisar o governo, no final do ano passado, de que os militares estarão sempre do lado da população. "Que ninguém ouse pensar que as Forças Armadas poderão ser usadas na repressão à convulsão social que estas medidas poderão provocar", afirmou. A posição é corroborada pelo representante dos oficiais das Forças Armadas, que avisou que, se os portugueses saíssem à rua, os militares não exerceriam "qualquer tipo de repressão". O descontentamento nas Forças Armadas subiu de tom nos últimos dias por causa da extinção do fundo de pensões - que entrou em vigor ontem e que a Associação de Oficiais já descreveu publicamente como uma medida que "humilha" os militares.

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